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A internet, esse mundo sem fronteiras, tornou-se o novo parquinho das crianças. Só que nesse parque, a gangorra balança perigosamente entre o útil e o perverso. Nunca foi tão fácil acessar conteúdos, conhecer pessoas, trocar mensagens — e, justamente por isso, nunca foi tão perigoso. Crianças e adolescentes estão vulneráveis. Expostas. Sozinhas num território que deveria ser vigiado com lupa.
Dados do ChildFund Brasil mostram que os adolescentes brasileiros passam, em média, quatro horas por dia na internet além do tempo escolar. Quatro horas. Tempo suficiente para absorver conteúdo educativo, sim — mas também para cair em redes de abuso sexual, golpes, crimes de ódio e manipulações mentais que destroem a autoestima e adoecem o corpo e a mente.
A polícia tem ampliado suas investigações sobre crimes digitais: apologia ao nazismo, maus-tratos a animais, instigação ao suicídio, pornografia infantil. A lista é sombria e cresce a cada clique não supervisionado. Enquanto isso, o Congresso Nacional avalia projetos de lei. E os pais? Muitos, cansados, entregam o celular como quem entrega um calmante. Melhor calado na tela do que fazendo birra no mercado.
A verdade é dura: muitos adultos perderam o pulso. E isso não é uma crítica vazia. É um alerta.
Por que as autoridades não instituem um cadastro obrigatório de faixa etária, atrelando a idade do usuário aos aplicativos acessíveis em seus dispositivos? Uma medida simples, que obrigaria as operadoras a criar e comercializar planos vinculados ao CPF de crianças e adolescentes, erguendo uma barreira inicial contra o acesso irrestrito. Paralelamente, um aplicativo governamental permitiria aos pais ou responsáveis monitorar, em tempo real, qualquer tentativa de burlar essa proteção.
E a punição, ah, a punição precisa ser exemplar. Redes sociais que negligenciarem essa determinação devem sentir o peso da lei, assim como a própria criança ou adolescente que descumprir as normas, com a suspensão do direito de possuir um celular até a maioridade. Medidas drásticas para um problema que clama por soluções urgentes.
Não se trata de cercear a liberdade, mas de proteger a fragilidade.
Estamos falando da segurança física e da saúde mental de jovens que podem ter seus futuros roubados, suas vidas ceifadas, ou serem tragados pela espiral da criminalidade. O tempo não é um aliado, mas um inimigo que inflaciona as estatísticas de dor e sofrimento a cada dia que passa. A urgência é escancarada. A inação é criminosa. A responsabilidade é de todos nós.
Por Alcina Reis
Jornalista Alcina Reis | Créditos: Arquivo pessoal