Brasil refém do GPS: realizado alerta militar sobre risco de apagão e perda de soberania
- porGeocracia
- 09 de Julho / 2025
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| Créditos: Reprodução/Geocracia
O jornalista Robson Augusto, traz na Revista Sociedade Militar que o Brasil vive uma perigosa dependência de satélites estrangeiros, o que pode colocar em risco o funcionamento de setores vitais como energia, telecomunicações, transportes e defesa. O alerta foi feito pelo coronel da reserva da Força Aérea Júlio Shidara, atual presidente da Associação das Indústrias Aeroespaciais Brasileiras (AIAB), durante o 1º Seminário de Segurança, Desenvolvimento e Defesa no Ambiente Espacial, realizado na Escola Superior de Defesa, em Brasília.
Shidara foi direto: “vivemos um momento que pode representar um divisor de águas para o futuro do programa espacial brasileiro”. Segundo ele, o país não possui autonomia tecnológica significativa em nenhuma das áreas críticas da infraestrutura espacial, com exceção da observação da Terra com sensores ópticos – e ainda assim sem dominar tecnologias mais sofisticadas como radares de abertura sintética (SAR) e sensores multiespectrais. Essa fragilidade estrutural pode impactar diretamente o cotidiano da população: o grid elétrico, por exemplo, depende de sinais de satélite para operar com precisão.
O especialista apresentou exemplos internacionais para ilustrar o risco. Citou que 14 dos 16 sistemas de infraestrutura crítica dos Estados Unidos dependem do GPS, segundo reportagem da Bloomberg. E lembrou que, durante a guerra entre Rússia e Ucrânia, a negação ou perturbação deliberada de sinais espaciais foi usada como arma, provocando blecautes em larga escala. “É relativamente fácil causar interferência porque é um sinal fraco”, afirmou, alertando que o Brasil, embora não registre casos semelhantes, está vulnerável.
Outra ameaça destacada por Shidara é a chamada “negação de acesso”, em que países fornecedores de dados espaciais bloqueiam o uso por motivos geopolíticos. Os Estados Unidos, por exemplo, já impediram o uso de imagens de satélite da empresa Maxar por parte da Ucrânia. Situação semelhante levou a Índia, em 1999, a desenvolver seu próprio sistema de navegação após o bloqueio do GPS durante a guerra de Kargil. “Eles decidiram investir não só num sistema próprio, como no programa espacial indiano como um todo”, relatou.
O contraste com o Brasil é marcante. Enquanto a Índia investia, em média, 800 milhões de dólares por ano entre 2008 e 2017, o Brasil aplicava cerca de sete vezes menos. E isso mesmo sem enfrentar conflitos armados. Para o coronel, a falta de percepção do risco geopolítico e estratégico leva à inércia institucional. Ele usou a metáfora da “síndrome do sapo na panela”: “o Brasil foi, ao longo de décadas, lenta e gradualmente aumentando a sua dependência por infraestrutura espacial estrangeira e hoje não se dá conta da vulnerabilidade que isso representa para a nossa soberania”.
O ponto mais sensível dessa dependência, segundo o coronel, é o domínio estrangeiro sobre os chamados sistemas de PNT – Posicionamento, Navegação e Tempo –, infraestrutura invisível que sustenta desde a aviação civil até a sincronização de redes bancárias, telecomunicações e o sistema elétrico. “Se houver negação ou degradação desse sinal, até o funcionamento de caixas eletrônicos pode ser comprometido”, explicou. No caso brasileiro, esse serviço é inteiramente baseado em constelações de satélites estrangeiros, como o GPS (EUA), o Galileo (UE) e o BeiDou (China), sem qualquer alternativa nacional que assegure resiliência ou soberania em situações críticas.
Apesar do cenário preocupante, Shidara encerrou sua fala com otimismo, citando o exemplo da Embraer e da indústria aeronáutica nacional. “Nós temos os recursos humanos. A gente faz melhor, mais barato e mais rápido”, defendeu. Mas reforçou que sem planejamento e consistência nos investimentos, o país continuará dependente de terceiros em um setor cada vez mais sensível. “O espaço está mais perto da sua vida do que você imagina”, finalizou.