“Surreal: O Insólito Debate da Nação Desorientada”

Na época dessas bonecas éramos felizes e não sabíamos | Créditos: Pinterest


Enquanto hospitais enfrentam filas intermináveis, mães aguardam por cirurgias e pacientes disputam o último leito como se fosse ouro, os nobres parlamentares de Brasília se dedicam a um problema que, sem dúvida, deve estar no topo das prioridades nacionais: bonecas. 

Sim, bonecas! Não aquelas que você encontra no fundo de um baú de brinquedos, mas os tais bebês reborn, esses hiper-realistas que parecem mais preocupados em ocupar o tempo do Congresso do que as mentes de quem os adota.

Você piscou e pronto, três projetos de lei surgiram para regulamentar esses bonecos. Três! Em um país onde os números da saúde gritam em vermelho, onde o feminicídio é uma mancha que não se apaga e a fome ainda rói a dignidade de tantos, eles preferem discutir a política do faz de conta. Um dos PLs quer proibir que os reborns recebam atendimento em unidades de saúde.

 Já pensou? O cidadão morrendo de dor no peito e alguém empurrando uma boneca na fila do SUS. Não, você não está lendo errado. Isso é real!

Mas não para por aí. Outro projeto, de autoria da deputada Rosângela Moro, propõe acolhimento psicossocial para aqueles que desenvolveram vínculos afetivos com seus bonecos. Porque, afinal, enquanto o país inteiro clama por atendimento psicológico, precisamos garantir que os pais e mães de silicone também sejam ouvidos. 

Já o deputado Dr. Zacharias Calil sugere punir quem tentar usar esses bonecos para furar fila, aproveitar assentos preferenciais ou arrancar descontos no mercado, como se estivessem criando os novos batedores de carteira da infância.

Tudo isso enquanto crianças reais ficam sem escola, idosos definham sem cuidados e a violência toma as ruas. É o Brasil onde a fila de transplante é longa, mas a paciência para discussões fúteis parece infinita. É como se, em meio ao incêndio, nossos líderes corressem para salvar os ursinhos de pelúcia.

O que a população, que paga seus impostos, assim como eu, espera é que esses parlamentares tenham vergonha de se prestar a esse papelão e retirem essa vergonha de pauta.

Sim, o país do faz de conta existe, e está mais vivo do que nunca. Só que, ao contrário da fábula de Lewis Carroll, não temos um Coelho Branco com pressa, mas uma fila interminável de políticos com tempo de sobra para gastar com bonecas. 

Em que momento o Brasil vai parar de brincar e começar a cuidar de seus filhos de carne e osso?

O que a população, que paga seus impostos, assim como eu, espera é que esses parlamentares tenham vergonha de se prestar a esse papelão e retirem essa vergonha de pauta.

Talvez no dia em que deixarmos de lado as fantasias e encararmos a realidade. Mas até lá, sigamos acompanhando a novela dos parlamentos de pelúcia, onde cada dia é um novo capítulo do surrealismo nacional.

Por Alcina Reis

| Créditos: Foto: Conteúdo MS

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