
| Créditos: yee laam lai/Vecteezy
Há algo que não fecha na matemática política da oposição em Campo Grande. A conta não bate, o discurso não encaixa, e a tal “luta pela moralidade” parece ter sido escrita num rascunho em papel reciclado de conveniência.
O PDT e o DC — partidos que, até semana passada, mal sabiam em quem confiar para formar chapa — decidiram, subitamente, agir com precisão cirúrgica. Para defender a tese de que a prefeita Adriane Lopes e sua vice cometeram abuso de poder econômico, recorreram a ninguém menos que José Eduardo Rangel de Alckmin, um ex-ministro do TSE, renomado advogado eleitoral e, veja só, primo do vice-presidente da República.
Coincidência? Conveniência? Ou uma escolha cuidadosamente calculada para dar peso político ao processo e criar o espetáculo de que a oposição agora joga no “nível federal”?
É legítimo que partidos questionem eventuais irregularidades. É saudável que a democracia tenha mecanismos de controle. Mas quando o palanque jurídico se transforma em palanque eleitoral, é o eleitor que deveria apertar o botão de alerta. Porque o jogo não parece mais sobre justiça, mas sobre poder. E pior: disfarçado de moralidade.
José Eduardo, é verdade, tem currículo invejável. Mas também tem um histórico de relações íntimas com o PSDB, já advogou para Aécio Neves, esteve na campanha de Lula, e seu escritório foi contratado — sem alarde — pelo próprio PSDB em 2023. A neutralidade, aqui, virou um conceito tão relativo quanto as intenções da oposição.
Enquanto isso, o julgamento no TRE-MS foi adiado. O relator votou contra a cassação, mas o processo foi interrompido por um pedido de vista. O cenário está armado, o tempo corre, e a cassação virou cabo eleitoral antecipado.
E aí, cidadão: a defesa do povo ou a sede pelo cargo alheio? A luta pela ética ou o uso dela como disfarce para as velhas práticas da política?
Será que a justiça, de fato, será feita, ou estamos presenciando apenas mais um capítulo de um roteiro onde os verdadeiros objetivos estão camuflados por trás de uma cortina de fumaça jurídica?
É bom lembrar que, em tempos eleitorais, até discurso de honestidade pode ser só mais uma peça de marketing. E nessa disputa, às vezes, o maior abuso não é de poder econômico — é de hipocrisia.
Por Alcina Reis
Jornalista Alcina Reis | Créditos: Arquivo pessoal