“Política sem memória, voto sem juízo”


O ex-deputado federal Edson Giroto, condenado no caso da Operação Lama Asfáltica, está de volta. Depois de um longo período em silêncio — após sua prisão e quase dois anos de encarceramento — ele anuncia, em tom de "esclarecimento", que irá contar a sua versão dos fatos. A promessa é de uma entrevista "tranquila", na qual, segundo ele, falará “exatamente o que aconteceu” e não o que disseram sobre sua pessoa. Giroto, que foi condenado a quase dez anos de prisão por ocultação de recursos ilícitos, agora busca recuperar não só sua liberdade, mas também sua imagem.

É incomum, mas não raro, ver políticos que saem de cena para se reconstruírem quando o palco está novamente preparado. Para alguns, como Giroto, a política nunca foi um espaço de serviço público, mas de sobrevivência pessoal. Ele já sabe o que é ser preso, o que é ser julgado, mas não sabe o que é realmente perder o protagonismo.

Giroto não está sozinho. Sua tentativa de retorno é mais um exemplo de como a política no Brasil trata a memória do eleitor como uma página em branco que pode ser reescrita. Ele sabe que, enquanto não houver uma verdadeira reflexão coletiva sobre os erros do passado, a chance de reconquistar cargos públicos será sempre uma possibilidade — especialmente quando se conta com o fator amnésia que caracteriza uma parte significativa do eleitorado.

A verdade que Giroto pretende contar talvez não seja a grande questão. O que precisamos entender é como essa "verdade" será interpretada. Depois de uma condenação por esconder milhões de reais, será que o público realmente tem interesse em ouvir mais uma justificativa ensaiada, ou já é hora de a sociedade exigir algo mais substancial de seus representantes? Não se trata apenas de ouvir a versão de quem já se viu envolvido em escândalos. Trata-se de pedir responsabilidade, não apenas para o passado, mas também para o futuro.

Essa postura de "retorno triunfante" de ex-políticos como Giroto é um reflexo de como o sistema político brasileiro ainda não aprendeu a lidar com as suas próprias falhas. Em vez de promover uma verdadeira renovação, continuamos a permitir que velhas figuras retornem como se fossem redentoras, disfarçadas de vítimas de um processo que não compreenderam ou não aceitaram.

O eleitor tem, sim, a memória curta. Mas o que ele pode esquecer a curto prazo, talvez nunca perca o sabor amargo do que foi feito em seu nome. Giroto vai tentar retomar a narrativa de sua história, mas a verdadeira pergunta que fica é: será que ele tem a verdade que realmente importa para o futuro da política no Estado?

Por Alcina Reis

Jornalista Alcina Reis | Créditos: Arquivo pessoal

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