“O povo dança, e o Casal Governa”
- porAlcina Reis
- 11 de Abril / 2025
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Em Jateí, o amor venceu. Venceu com um contrato de R$ 118.800. Foi assim, sem cerimônia — ou melhor, com dispensa de licitação. O marido da prefeita, que também é contador, agora embolsa quase R$ 10 mil por mês dos cofres da Câmara Municipal. E não se trata de amor à cidade, mas ao erário.
Davi Brito, esse sortudo profissional de "serviços técnicos especializados em contabilidade pública", foi escolhido sem concorrência, sem edital, sem disputa. Só com assinatura. E é claro, com muita confiança. Confiança que, ao que parece, transborda em Jateí. O presidente da Câmara, Robson Monteiro, o Robinho (também do PSDB), tem usado e abusado da tal dispensa de licitação. Em apenas três meses, R$ 1,1 milhão foi distribuído a dedo — e sem economia.
Tem de tudo nesse balaio: R$ 128 mil em combustível (porque Jateí, com seus 3.586 habitantes, é praticamente um Rally dos Sertões), R$ 330 mil para um escritório de advocacia "de notória especialização", mais uns R$ 228 mil para consultoria contábil (porque, aparentemente, contador em Jateí é artigo de luxo), e ainda R$ 323 mil em assessoria jurídica. A farra é grande, e o dinheiro, é público.
E quem são os felizes agraciados? Um posto de gasolina, dois escritórios de advocacia e uma assessoria de planejamento. Tudo muito técnico, tudo muito necessário, claro. Mas sempre com aquela pitada de conveniência — e zero de concorrência.
Ah, e não pense que o romance entre o público e o privado termina aí. Em novembro passado, a então prefeita eleita, Cileide Cabral, foi bater ponto em Brasília. Levou vereadores e, claro, o maridão. Um tour oficial, com agendas políticas, registros fotográficos e, provavelmente, muito amor. Afinal, casal que viaja junto, contrata junto.
Enquanto isso, a cidade se prepara para sua tradicional Festa da Fogueira. Nada contra o forró, o sertanejo ou o calor da festa junina. Mas quando um município com menos de 4 mil almas destina R$ 1,54 milhão para seis shows, dá vontade de perguntar se Jateí virou capital cultural do Brasil — ou apenas um exemplo escancarado de prioridades tortas.
No ano passado, Ana Castela levou R$ 700 mil. Este ano, Manu Bahtidão e Guilherme & Benuto não ficam muito atrás, também contratados via dispensa de licitação. Porque quando o assunto é gastar sem licitar, Jateí não economiza nem no som.
Diante de tudo isso, o que resta ao cidadão jateiense? Talvez sentar na praça e assistir ao espetáculo. Não o do palco, mas o dos bastidores — onde o show é garantido e a conta, como sempre, é nossa.
Por Alcina Reis
Com informações: O Jacaré
Jornalista Alcina Reis | Créditos: Conteúdo MS