Cresce movimento de “desprescrição” de remédios psiquiátricos com apoio online e ceticismo médico

Cooper Davis oferece aconselhamento a clientes pagantes como Daniel, por intermédio da organização sem fins lucrativos que administra com a esposa | Créditos: Christopher Capozziello/The New York Times


Advogado em seus 40 anos, Daniel está gradualmente interrompendo o uso de lítio com acompanhamento profissional. Diagnosticado com transtorno bipolar ainda no ensino médio, ele agora busca viver sem os medicamentos psiquiátricos que utilizou por décadas. Apesar dos avanços, crises de ansiedade e insônia o fazem questionar a decisão. “E se os médicos estiverem certos?”, perguntou, em sessão com Laura Delano.

Delano não é médica, mas lidera uma rede de aconselhamento informal sobre a interrupção de psicofármacos. Autora do livro Unshrunk, ela abandonou o uso de 19 medicamentos há 14 anos e hoje afirma ter recuperado a saúde. Por meio da ONG Inner Compass, que administra com o marido, oferece apoio a quem deseja reduzir ou abandonar remédios. “Muitos percebem que talvez nem precisem contar ao médico”, afirma.

A iniciativa faz parte de um movimento crescente nos EUA, impulsionado por relatos como o de Adele Framer, que criou o site Surviving Antidepressants após enfrentar abstinência do Paxil. Médicos alertam, porém, para os riscos da retirada sem supervisão: recaídas, agravamento de quadros e risco de suicídio. Para casos graves, como esquizofrenia, os medicamentos seguem sendo a única opção validada.

A psiquiatria tradicional começa a responder à demanda por “desprescrição”. No Reino Unido, diretrizes já reconhecem a síndrome de abstinência. Nos EUA, a Associação Americana de Psiquiatria planeja publicar um guia sobre o tema.

Delano ganhou notoriedade ao relatar sua trajetória como ex-paciente psiquiátrica no blog Mad in America. Diagnosticada com transtorno bipolar aos 13 anos, passou por diversas internações e tentou o suicídio. Ao ler Anatomia de uma Epidemia, de Robert Whitaker, questionou se os medicamentos eram a causa, e não a solução, de seu sofrimento. Com apoio médico, enfrentou um difícil processo de abstinência e hoje diz que recuperar sua autonomia exigiu um “ato de fé”.

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