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A oficialização de Carlo Ancelotti como técnico da seleção brasileira, envolta em um manto de expectativas e cifras astronômicas, escancara uma ferida purulenta na nossa sociedade: a obscena disparidade de valores que permeia o universo do futebol. Os milhões jorrando para salários, mansões e bônus de um único profissional soam como um deboche para a realidade de milhões de brasileiros que lutam por um salário digno. Mas o escárnio atinge um patamar ainda mais revoltante quando constatamos que, para ser agraciado com essa fortuna no panteão da bola, a exigência máxima resume-se a saber ler e escrever.
Brasil, toma vergonha!
Como justificar que indivíduos sem a necessidade de anos de formação acadêmica, sem a comprovação de um diploma que ateste um conhecimento aprofundado em sua área, possam embolsar quantias que eclipsam os rendimentos de médicos que salvam vidas, de professores que moldam o futuro, de cientistas que impulsionam o progresso? Essa inversão de valores clama aos céus, expondo uma lógica perversa onde o talento nos gramados, por mais inegável que seja, parece valer infinitamente mais do que o conhecimento e a dedicação em áreas cruciais para o desenvolvimento da nação.
De onde verte esse rio de dinheiro que irriga essa festa indecente? Seriam os patrocínios a varinha mágica capaz de gerar tamanha opulência? Ou será que a nossa paixão cega pelo esporte breca qualquer senso crítico diante dessa farra financeira? Enquanto escolas e hospitais mendigam recursos, enquanto a desigualdade social sangra nas estatísticas, o futebol brasileiro ostenta salários e benefícios que parecem ter saído de um conto de fantasia para bilionários.
E nós, a torcida que sonha com o hexacampeonato como um bálsamo para as mazelas do dia a dia, nos resta o sarcasmo como arma de defesa.
Com um maestro italiano a receber uma fortuna que faria inveja a um sheik, hospedado em uma mansão digna de um rei e com a promessa de um bônus que poderia transformar a realidade de milhares, o hexa, meus amigos, é uma mera formalidade! Preparem os desfiles, as camisetas com a sexta estrela já podem ser encomendadas. Afinal, com tanto dinheiro em campo, qualquer resultado adverso seria um vexame histórico.
Brasil, toma vergonha!
Que a paixão pela bola não nos impeça de enxergar a gritante falta de prioridade e a obscena desigualdade que essa orgia financeira no futebol escancara.
Por Alcina Reis
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