“A fila não anda na política sul-mato-grossense”
- porAlcina Reis
- 09 de Junho / 2025
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| Créditos: Charge: jornalggn.com.br/Correio Brasiliense
Na política sul-mato-grossense, o tempo avança no calendário, mas não nas urnas. Em 2026, o eleitorado poderá se deparar, mais uma vez, com os mesmos rostos, os mesmos discursos e as mesmas promessas recicladas de sempre. Vários pré-candidatos que se projetam para a próxima eleição têm mais de 70, 80 anos, e acumulam décadas no poder, muitos com mandatos consecutivos desde os tempos em que o Brasil ainda vivia sob outras realidades políticas.
Trata-se de uma persistência que vai além da dedicação: é apego. O argumento central é a experiência — sempre ela. Dizem que ainda têm muito a contribuir, que estão física e mentalmente aptos, que contam com o apoio popular e que conhecem como ninguém os caminhos da política estadual. Mas, afinal, até quando a política será refém do passado?
A Constituição não estabelece idade máxima para disputar eleições, e isso é justo. O problema não está nos anos de vida, mas na insistência em transformar cargos eletivos em extensão de uma carreira pessoal, como se o serviço público fosse um espaço de ocupação vitalícia. A permanência contínua nas cadeiras do poder revela não só um projeto de eternização, mas também a ausência de compromisso com a renovação.
Enquanto isso, lideranças jovens, com novas ideias e disposição para lidar com os desafios contemporâneos, seguem à margem. A política continua funcionando como uma engrenagem viciada, onde se protege o conhecido e se evita o novo — principalmente quando esse novo ameaça dinastias familiares, arranjos partidários e heranças eleitorais.
O problema não é a idade em si, mas a mentalidade que essa insistência representa. A política, para ser verdadeiramente democrática, precisa ser um espaço dinâmico, onde o fluxo de ideias e a alternância de poder sejam constantes. Manter as mesmas cadeiras ocupadas por décadas impede a ascensão de novas lideranças, sufoca a inovação e, muitas vezes, perpetua um modelo de fazer política que pode já não dialogar com a realidade da população.
É urgente que a política dê espaço a novos nomes. Que se rompa com as "linhas sucessórias familiares" que transformam cargos públicos em heranças. Que se acabe com a cultura de que "só quem está há muito tempo" tem a capacidade de governar. O eleitorado precisa ter opções reais, não apenas a reedição de velhas candidaturas. É preciso que os próprios "caciques" entendam que a verdadeira contribuição, por vezes, é dar um passo atrás e permitir que a próxima geração assuma o bastão. Só assim a política poderá, de fato, se renovar e responder às verdadeiras aspirações de uma sociedade em constante transformação.
Por Alcina Reis