Veja mensagens obtidas pela PF sobre negociação de cartão de vacinação falso de Cid e familiares
- porR7
- 19 de Março / 2024
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Mauro Cid foi ajudante de ordens de Bolsonaro | Créditos: Geraldo Magela/Agência Senado
O ex-ajudante de ordens do governo Bolsonaro Mauro Cid articulou com contatos de dois estados para conseguir falsificar o registro de vacinação próprio e da família. A informação aparece no relatório final da Polícia Federal sobre a investigação da inserção de dados falsos no sistema de SUS (Sistema Único de Saúde). Cid chegou a alegar, como mostra uma das conversas obtidas pelos investigadores, que teriam esquecido de colocar os dados da esposa no programa (veja prints das conversas abaixo).
Etapa 01 - Falsificação do cartão de vacinação da Covid-19
Segundo o relatório, Cid procurou o sargento Luiz Marcos dos Reis para obter o documento já preenchido com as supostas doses aplicadas na esposa, Gabriela Santiago Cid.
| Créditos: DIVULGAÇÃO/POLÍCIA FEDERAL
A partir do pedido, o militar enviou um arquivo com o nome "cartão arquivo de vacinação" da Secretaria de Estado de Saúde do Governo de Goiás. O documento afirmava que Gabriela teria recebido as doses nos dias 17 de agosto e 9 de novembro de 2021.
| Créditos: Divulgação/Polícia Federal
Porém, por meio da geolocalização do celular, a PF confirmou que a esposa de Cid estava em Brasília nas duas datas. O cartão foi assinado e carimbado pelo médico e sobrinho do militar, Farley Vinicius de Alencar.
| Créditos: Divulgação/Polícia Federal
Registros de conversas obtidas pela PF também mostram que o médico afirmou que copiou o lote das vacinas de um cartão de vacinação de uma enfermeira.
Etapa 02 - Tentativa de inserir dados falsos no sistema Conect SUS
No segundo momento, Cid procurou o segundo-sargento do Exército Eduardo Crespo Alves para colocar os dados falsos no sistema do Ministério da Saúde. Em transcrições, Crespo chega a afirmar que a ação estava em andamento. A ideia era subir os dados pelo sistema do Rio de Janeiro.
| Créditos: Divulgação/Polícia Federal
No dia 24 de novembro de 2021, o militar manda outra mensagem para Cid afirmando que uma pessoa não identificada não estava conseguindo colocar os dados porque o lote da vacina não foi enviado para a região.
Cid chega a afirmar que o suposto responsável teria esquecido de cadastrar a suposta aplicação da vacina em sua esposa. O ex-ajudante de ordens também afirmou, em outra troca de mensagens, que Gabriela teria sido vacinada em Brasília.
Com a dificuldade para colocar os dados, Cid e Marco dos Reis solicitam mais uma vez a ajuda do médico Farley Vinicius de Alencar. Desta vez, a ideia era enviar cartões de vacinação em branco, para que colocassem o lote dos imunizantes que estavam no Rio de Janeiro.
Porém, a iniciativa acaba demorando muito, já que Cid e a família iriam viajar para os Estados Unidos. Crespo chega a pedir desculpas ao ex-ajudante de ordens pela demora, mas Mauro Cid afirma que já teria conseguido por "com outros contatos".
Etapa 03 - Outros contatos e inserção de dados falsos no sistema do SUS
A tentativa bem sucedida de realizar a fraude no sistema foi iniciada pelo ex-militar Ailton Barros. Em novembro, Barros pediu para Cid checar se um código havia sido enviado para o celular da esposa. Segundo a PF, a chave seria da conta Gov.br de Gabriela.
Mensagens Cid | Créditos: Divulgação/Polícia Federal
Ailton repassou a numeração, e dados da operadora de celular mostrou que a conta da esposa de Cid no foi acessada pelo IP de Marcelo Fernandes de Holanda, localizado no Rio de Janeiro. A PF localizou no celular dele um print com informações da Gabriela na plataforma do Ministério da Saúde.
Mensagens Cid | Créditos: Divulgação/Polícia Federal
O relatório mostra diversas conversas entre o ex-militar e o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Em uma delas, Ailton Barros afirma que acredita “que pelo menos uma delas [tentativas para inserir os dados] deverá dar bingo aqui do Rio.”
| Créditos: DIVULGAÇÃO/POLÍCIA FEDERAL
Dias depois, foi registrado no sistema que Gabriela teria recebido a primeira dose da vacina dia 25 de agosto de 2021, e a segunda no dia 15 de outubro de 2021. Os imunizantes teriam sido aplicados em posto médico sanitário de Xerém, no município de Duque de Caxias (RJ).
| Créditos: Divulgação/Polícia Federal
No entanto, os dados só foram inseridos no sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações na em novembro do mesmo ano.
Etapa 04 - Filhas e entrada nos Estados Unidos
Além da mulher, as filhas de Cid e o próprio militar também constam no sistema como imunizados contra a Covid-19. Porém, a PF também encontrou indícios que a aplicação não teria acontecido, já que mensagens mostram que a rotina da família em Brasília permanecia normal.
Mensagens Cid | Créditos: Divulgação/Polícia Federal
A PF também elenca uma conversa de Cid com o contato "Liliane Cid", possivelmente sua cunhada, sobre possíveis exigências para viagens. O ex-ajudante de ordens da presidência chega a afirmar que não iria tomar as vacinas. "Eu não vou tomar, nem as crianças. As vacinas ainda estão em fase de teste. 'Tô' fora", afirma.
| Créditos: Divulgação/Polícia Federal
Cid também voltou a ser irônico com a fala de Bolsonaro, na qual o ex-presidente relacionou a vacina com a possibilidade do paciente virar um jacaré. Uma delas, em um grupo que a PF acredita ser formado por familiares, o militar afirma que não vai ser cobaia humana.
DIVULGAÇÃO/POLÍCIA FEDERAL