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O cenário político de Campo Grande, sempre fértil em personagens folclóricos, nos brinda com mais um capítulo digno de nota. Desta vez, o protagonista é um certo vereador local, daqueles que parecem ter como missão de vida agitar as redes sociais com suas opiniões, nem sempre munidas da totalidade dos fatos.
Nosso edil, indignado – e diga-se de passagem, com certa razão inicial –, ecoou em suas plataformas digitais um grito de revolta contra a aprovação, em regime de urgência na Câmara dos Deputados, do requerimento de autoria do Supremo Tribunal Federal (STF). A proposta, que visa a criação de 160 novos cargos comissionados na mais alta corte do país, com um custo estimado em R$ 20 milhões.
Confesso, num primeiro momento, a indignação do vereador encontra eco por aqui, também achei um absurdo. Em tempos de aperto financeiro, a notícia de mais despesas, ainda mais para o já robusto quadro do STF, soa, no mínimo, dissonante.
Mas porque "Vossa Senhoria", que gosta tanto de apontar o dedo, esqueceu de olhar para o próprio quintal? Sim, nobre edil, antes de criticar os deputados Beto Pereira, Dagoberto e Vander — e ainda chamar os eleitores sul-mato-grossenses de “trouxas” com emoji de palhaço — o senhor poderia ter checado como votaram os colegas de partido.
Ah, o famigerado “porém”! É nesse ponto que a máxima do “quem tem telhado de vidro não atira pedra” se encaixa como uma luva. Nosso vereador, em sua fúria seletiva, parece ter negligenciado um pequeno, mas crucial, detalhe: a atuação dos deputados de seu próprio partido na votação do requerimento de urgência.
Pasmem, caros leitores! Para que a urgência fosse aprovada, eram necessários ao menos 257 votos favoráveis. E, vejam só a ironia do destino (ou seria da política?), nove deputados do Partido Liberal (PL) – a mesma do nosso indignado vereador –, votaram a favor do requerimento. Sim, nove parlamentares da sigla que, em tese, se opõe ferrenhamente a tais medidas, foram cruciais para que a proposta sequer fosse apreciada em regime de urgência. Sem esses votos “dissidentes”, o quórum mínimo não teria sido atingido.
Os nomes dos nove “pecadores” liberais foram devidamente registrados: Adilson Barroso (SP), Antonio Carlos Rodrigues (SP), Luiz Carlos Motta (SP), Marcelo Álvaro Antônio (MG), Pastor Eurico (PE), Robinson Faria (RN), Rosângela Reis (MG), Soraya Santos (RJ) e Wellington Roberto (PB). Uma lista que, certamente, deveria causar algum desconforto no nosso vereador “causador”, caso ele se desse ao trabalho de pesquisar um pouco mais a fundo.
A proposta em si, é sem dúvida, um tema para debate e escrutínio. Mas a forma como a informação é veiculada, omitindo fatos relevantes e direcionando a indignação de forma seletiva, levanta sérias questões sobre a lisura do debate público.
Fica a lição: desconfie de quem grita demais e pensa de menos. Antes de espalhar verdades pela metade, olhe pro próprio telhado. Porque quando ele é de vidro, o mínimo que se espera é cuidado com as pedras.
Por Alcina Reis
Jornalista Alcina Reis | Créditos: Conteúdo MS