“O toque humano no clique que falta”


A tecnologia avança a passos largos, transformando o mundo a cada instante. Bancos, serviços, comunicação – tudo migrou para o digital, e a conveniência é inegável para muitos. Mas nesse ritmo vertiginoso, um grupo importante tem sido deixado para trás: nossos idosos. A familiaridade com o mundo analógico, o receio de errar, a preocupação com a segurança e as barreiras inerentes ao universo digital criam um abismo entre eles e as facilidades modernas. 

Para quem cresceu com a ficha telefônica e o carnê do banco, o aplicativo e o token são obstáculos, não soluções.

É nesse contexto que o Projeto de Lei 218/2024, de autoria do deputado Pedro Kemp, do PT, surge como um sopro de lucidez e cuidado. Pode parecer simples, mas a iniciativa, aprovada hoje na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, ao garantir o direito de apresentar a carteirinha física de identificação em planos de saúde, mesmo com a exigência de aplicativos, é um gesto de enorme significado. Kemp, com certeza, presenciou as dificuldades que muitos idosos enfrentam no dia a dia. A imagem de uma pessoa mais velha tentando, sem sucesso, navegar por um aplicativo de banco ou de plano de saúde é, infelizmente, comum.

O mundo tecnológico, sim, é extremamente útil. Agiliza processos, conecta pessoas e democratiza o acesso à informação. Mas, como bem apontado, também pode ser inútil e até perigoso quando não se pensa em todos. As tragédias, as fraudes, as exclusões que vêm junto com os avanços são um preço alto a pagar. No caso dos idosos, a desconexão com o digital não é uma escolha, mas uma imposição. E é aí que o olhar de atenção se torna essencial.

O projeto de lei de Kemp não é apenas sobre uma carteirinha física. É sobre dignidade, acessibilidade e respeito. É sobre reconhecer que a nova geração tem facilidade, mas a geração que construiu o mundo em que vivemos hoje merece ter seus direitos e necessidades considerados. É um lembrete de que, em meio à corrida por inovação, não podemos esquecer o olhar especial que os mais velhos merecem. A tecnologia deve ser uma ferramenta para incluir, não para afastar. E, ao aprovar essa lei, os deputados de Mato Grosso do Sul deram um passo importante em direção a um futuro mais inclusivo para todos. Esse olhar de cuidado, talvez silencioso para os algoritmos, faz barulho no coração. 

E é disso que o mundo precisa: menos comandos e mais compaixão.

Por Alcina Reis

Jornalista Alcina Reis | Créditos: Arquivo pessoal

Compartilhe: