
| Créditos: Reprodução/Governo MS
Por que é que sempre querem acabar com o que é essencial? Como se progresso só viesse do concreto, como se verde fosse sinônimo de atraso. Já tentaram uma vez, em 2019, cortar árvores para um estacionamento. Agora, voltam com a ideia — mais ambiciosa, mais alta: prédios na zona de amortecimento do Parque Estadual do Prosa.
Disfarçam de modernidade, chamam de desenvolvimento, mas o que se planeja é emparedar o horizonte. Esquecem que ali vivem mais de 260 espécies de aves, muitas migratórias, que atravessam continentes e encontram abrigo justamente nesse pedaço de Cerrado que resiste. Ignoram que, além de fauna, o parque guarda frescor: seis graus a menos que o centro da cidade — um alívio térmico num tempo em que o calor já castiga.
Debate-se, na Câmara, os riscos da verticalização. Fala-se de impacto, de escoamento de águas, de atropelamento de animais, de poluição sonora e visual. Fala-se até em transformar aquela área num novo bairro de cem mil moradores, espremendo carros, asfalto e concreto em volta do último refúgio natural urbano. Enquanto isso, o poder público se ausenta. A natureza, porém, está presente — e calada, mas não indiferente.
Querem prédios de vinte e cinco andares com espelhos e sacadas que confundem as aves e as fazem despencar. Querem transformar trilha em atalho, canteiro em vaga de garagem. A desculpa é que o centro da cidade não atrai mais. Mas será que a solução é enfiar cimento no pouco verde que resta?
Num cálculo apressado, dizem que há espaço para erguer até 170 torres ao redor do parque. E o céu? Some. O vento? Some. E o parque? Vira quintal de luxo, acesso exclusivo de quem pode pagar por ele. Aos outros, sobra a vista dos muros.
O nome da cidade é um lembrete: Campo Grande.
Onde está escrito que progresso significa destruição? A própria denominação da cidade evoca a vastidão de espaços disponíveis. Não é preciso sufocar nossa reserva natural em nome de projetos imobiliários. Chega de ideias descabidas que visam o lucro imediato em detrimento do bem comum e do futuro ambiental.
O parque precisa ser tombado, urgentemente, para que sua essencialidade seja finalmente reconhecida e protegida de vez.
Por Alcina Reis