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Em Campo Grande, o calor é constante — mas, curiosamente, a memória política parece ter uma brisa gelada que apaga promessas antigas. Em 2017, Marquinhos Trad falava com fervor sobre a necessidade de modernizar o transporte coletivo. Climatizar os ônibus? Essencial. Estava nas metas, nos discursos, nas entrevistas. Sete anos depois, o mesmo Marquinhos, agora vereador, votou contra o projeto "Ar no Busão", que prevê justamente o que ele tanto prometeu: ar-condicionado nos veículos novos do transporte público.
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O projeto, aprovado com folga por 21 votos a favor e apenas três contrários, não surgiu do nada. É fruto da pressão de uma população cansada de enfrentar ônibus superlotados, lentos e, principalmente, sufocantes. Em pleno século XXI, num Estado que parece estar sempre sob o sol do meio-dia, querer viajar em ônibus climatizado não é luxo. É saúde, dignidade, decência mínima.
E aí está a surpresa — ou talvez nem tanto. Marquinhos, ao lado de Otávio Trad e Deli Pinheiro, votou contra. Nenhuma explicação convincente veio à tona. Apenas o silêncio, que, em política, costuma falar alto. O problema não é mudar de opinião. Isso acontece, é até saudável. O problema é mudar de lado sem explicar por quê, como se a memória coletiva fosse curta ou irrelevante.
Fica o gosto amargo da incoerência. A população segue esperando, suando, sendo paciente. E, enquanto os ônibus seguem sem ar, a política local mostra, mais uma vez, que entre o discurso de campanha e o voto na Câmara, existe um abismo. Ou, como dizem por aí, prometer é fácil — difícil mesmo é encarar o calor da responsabilidade.
Qual será o real motivo dessa mudança de promessa?
Por Alcina Reis
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