‘Faça o que Eu Digo’

| Créditos: Reprodução/Facebook


No sempre efervescente palco da política, o presidente da Câmara, Hugo Motta, um Republicano da Paraíba, aprontava mais um de seus números. Para hoje, 25 de junho, estava pautada a votação que prometia sepultar o decreto governamental que alçava o IOF a novas alturas. Motta, maestro da própria orquestra, mobilizou sua tropa, enquanto, com um sorriso calculista, jogava para a plateia ávida por espetáculo.

"O mínimo do dever de casa no corte de gastos", bradou ele, em tom professoral, exigindo do governo uma austeridade que parecia seletiva. As medidas propostas pelo Executivo, segundo o deputado, haviam sido "extremamente mal recebidas pelo Congresso e pelo setor produtivo". E, com ares de conciliador, defendeu uma agenda alinhada, uma que "seja boa para o país". Justo. A preocupação com a saúde financeira da nação é louvável.

Mas, se a lupa da austeridade fosse tão imparcial, Motta poderia direcionar o mesmo discurso ao encontro agendado para sexta-feira, 27 de junho, com o ministro do Supremo Tribunal Federal, Flávio Dino. Dino, o guardião de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade que investiga a névoa que paira sobre a transparência e a rastreabilidade das emendas parlamentares, tem sido, desde que vestiu a toga, uma verdadeira pedra no sapato do Centrão. Sua atuação, vista por alguns como um movimento coordenado com o Executivo, tem gerado rusgas constantes entre o governo e o Congresso.

Motta e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, também do União do Amapá, irão pessoalmente ao Supremo para responder aos questionamentos sobre a farra dos recursos. E não é pouca coisa. A Folha de S.Paulo revelou que o montante total destinado a emendas no orçamento deste ano atinge a estratosférica cifra de R$ 59 bilhões. Desse total, R$ 25 bilhões são referentes a emendas individuais – um quinhão generoso de R$ 68 milhões para cada senador e R$ 37 milhões para cada deputado.

E a semana promete mais capítulos. O Senado está prestes a votar o aumento do número de cadeiras na Casa vizinha. O custo estimado? R$ 64 milhões por ano. E isso sem contar a inevitável ampliação dos recursos destinados a emendas para cada um dos 18 novos deputados. A conta, no final das contas, sairá bem salgada. Mas dificilmente veremos Hugo Motta discursar em tom professoral ou demonstrar a mesma preocupação com a escalada dos gastos nas redes sociais, ou em encontros com empresários, quando o tema são as emendas parlamentares.

Parece que o corte de gastos, nos olhos dos outros Poderes, é refresco. Afinal, pau que bate no chico precisa urgente bater no francisco.

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