Dólar à vista sobe com leilões do Banco Central, risco fiscal e Campos Neto; moeda norte-americana teve leve queda em agosto
- porMoney Times
- 30 de Agosto / 2024
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Apesar da alta de 0,39% no dia, a 4,8516 reais na venda, o Dólar encerrou acumulando uma queda de 8,08% frente ao real | Créditos: Getty Imagens
O avanço do dólar foi contido por duas intervenções no câmbio pelo Banco Central em dia de dados econômicos no Brasil e nos Estados Unidos
O último pregão de agosto fez jus à agitação do mês com a divulgação de dados econômicos no Brasil e nos Estados Unidos, além de duas intervenções no câmbio pelo Banco Central. O dólar à vista (USDBRL) fechou em alta pela quinta vez consecutiva.
Na comparação com o real, moeda norte-americana encerrou as negociações a R$ 5,6350 (+0,21%). Durante o dia, o dólar teve máxima intradia a R$ 5,6919 (+1,22%).
O desempenho do dólar acompanhou o exterior. O indicador DXY, que compara o dólar a uma cesta de seis divisas globais, fechou com alta de 0,35%.
Na semana, o dólar avançou 1,84%, com fechamento em alta em todos os pregões. Mas em agosto, a divisa norte-americana acumulou queda de 0,36%.
O que mexeu com o dólar hoje?
O alta do dólar foi contida por dois leilões do Banco Central, em um dia movimentado.
O primeiro foi realizado pela manhã, no qual o BC vendeu 1,5 bilhão de dólares em leilão no mercado à vista.
Já no início da tarde, o BC vendeu 15.300 contratos de swap cambial tradicional (US$ 765 milhões), de um total de 30.000 contratos (US$ 1,5 bilhão de dólares) ofertados em operação extra realizada no mercado de câmbio.
Essa segunda intervenção, tem efeito equivalente à negociação de dólares no mercado futuro — o segmento mais líquido no Brasil e, no limite, o que determina as cotações no mercado à vista.
As intervenções no câmbio aconteceram por, pelo menos, dois motivos: a expectativa de fluxo de saída de capital com o rebalanceamento do índice EWZ (MSCI Brazil ETF), que passará a incluir ações brasileiras listadas no exterior, como XP e Nubank.
O outro fator foi a volatilidade do câmbio para a formação da taxa Ptax de fim de mês, que serve de referência para a liquidação de contratos futuros no início de setembro.
Em evento, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que a autoridade monetária pode fazer mais intervenções no câmbio, caso necessário.
“A gente está tendo um movimento de fluxo atípico por um rebalanceamento de um índice. Cabe ao BC mapear qual o tamanho desse desbalanceamento, quanto precisa para suprir esse fluxo que é atípico. A gente também está olhando a diferença do que a gente entende que é um descolamento muito grande dos fundamentos, às vezes por critério de liquidez, às vezes por ruídos de curto prazo”, disse.
“A gente está mapeando, se for preciso mais intervenções, assim faremos”, acrescentou Campos Neto ao ressaltar que o BC tem reservas suficientes para intervir no câmbio quando for necessário.
Preocupação com fiscal e dados do mercado de trabalho
Além das intervenções no câmbio, o mercado doméstico reagiu a uma série de dados econômicos divulgados nesta sexta-feira (20).
O setor público consolidado (governo central, Estados, municípios e estatais, excluindo de Petrobras e Eletrobras) registrou déficit primário de R$ 21,3 bilhões em julho, pior que o esperado pelo mercado.
Em 12 meses, o primário consolidado foi de um déficit de 2,4% em junho para um déficit de 2,3% do PIB em julho, sendo uma queda de 2,4% no governo central de acordo com a definição do BC e alta de 0,1% nos estados, municípios e estatais.
Na avaliação do Itaú BBA, a arrecadação tem se mostrado forte, mas os riscos fiscais continuam elevados, considerando o crescimento de gastos obrigatórios acima do limite definido no arcabouço fiscal e a dificuldade em obter uma trajetória de convergência de resultados primários.
“Com os dados preliminares indicando uma nova surpresa altista nos gastos com Previdência em julho e agosto em relação ao esperado pelo governo, será fundamental um novo bloqueio de despesas no relatório bimestral de setembro para garantir o cumprimento do limite de despesas em 2024”, escreve o economista Thales Guimarães, em relatório.
A taxa de desemprego no Brasil ficou em 6,8% nos três meses até julho, em linha com o esperado por economistas e marcando o menor nível para o período desde o início da série do governo, em 2012, evidenciando a força do mercado de trabalho no país em um momento em que o Banco Central tem reiterado surpresa com a força da atividade econômica.
Além disso, o sumário executivo do Projeto de Lei Orçamentária de 2025 esteve no radar do mercado.
Nos bastidores do Congresso, o acordo sobre emendas continua a gerar tensão, enquanto o debate sobre a sucessão na presidência da Câmara ganha força — Elmar Nascimento (União Brasil-BA) é o nome mais cotado, mas atual presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), ainda não anunciou quem apoiará.
O exterior também contribuiu para alta/queda do dólar.
O Índice de Preços de Gasto com Consumo (PCE, na sigla em inglês) avançou 0,2% no mês de julho, em linha com o esperado. Na comparação anual, o PCE foi a 2,5%, levemente abaixo do previsto, mas acima da meta de 2% perseguida pelo Federal Reserve (Fed).
Após o dado, o mercado reforçou a expectativa de que o Fed inicie o ciclo de afrouxamento monetário nos Estados Unidos com um corte de 0,25 pontos-base nos juros em setembro.
Segundo a ferramenta FedWatch, do CME Group, as chances de corte de menor magnitude, que levaria os juros norte-americanos a faixa de 5,00% a 5,25% ao ano, são de 69,5%. Ontem (29), a probabilidade era de 66%.
Já as apostas de redução de 50 pontos-base, o que traria os juros ao intervalo de 4,75% a 5,00%, caíram de 34% (ontem) para 30,5% hoje após o dado de inflação.
O Fed se reúne entre os dias 17 e 18 de setembro.