Cientistas usam milhões de mosquitos para evitar extinção de aves no Havaí; entenda
- porR7
- 24 de Junho / 2025
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Drones lançam mosquitos modificados em florestas havaianas para combater malária aviária | Créditos: Divulgação/American Bird Conservancy
No Havaí, cientistas estão promovendo uma iniciativa inusitada, envolvendo drones e mosquitos, para salvar da extinção as coloridas aves honeycreepers, conhecidas como trepadeiras-do-mel.
Drones estão sendo usados para liberar milhões de mosquitos nas florestas das ilhas, em uma estratégia que procura combater outros mosquitos invasores responsáveis pela transmissão da malária aviária, uma doença fatal para essas aves nativas.
O projeto, iniciado em novembro de 2023, já soltou mais de 40 milhões de insetos nas ilhas havaianas de Maui e Kauai, de acordo com a American Bird Conservancy (ABC), uma das organizações envolvidas na ação.
Os honeycreepers são pássaros emblemáticos do Havaí, famosos por terem penas vibrantes e bicos adaptados a diferentes tipos de alimentação. Das mais de 50 espécies que já habitaram as ilhas, apenas 17 permanecem, segundo a Smithsonian Magazine.
A queda na população é reflexo do impacto devastador da malária aviária, transmitida por mosquitos não nativos, como o Culex quinquefasciatus. Esses insetos chegaram ao Havaí em 1826, trazidos acidentalmente por um navio baleeiro, e se proliferaram no clima quente e úmido das ilhas.
Como funciona a estratégia?
A técnica, chamada de “inseto incompatível”, consiste em liberar mosquitos machos criados em laboratório que carregam a bactéria Wolbachia. Esses machos não picam e, ao acasalarem com fêmeas selvagens, produzem ovos que não eclodem, reduzindo gradualmente a população de mosquitos invasores.
“O que isso faz é erguer uma barreira invisível para que esses mosquitos não consigam chegar às florestas onde essas aves permanecem”, disse Chris Farmer, diretor da ABC, em entrevista ao site de notícias norte-americano Vox.
Os mosquitos são transportados em cápsulas biodegradáveis feitas de polpa de papel, cada uma contendo cerca de 1.000 insetos. Essas cápsulas são lançadas nas florestas, onde protegem os mosquitos até que estejam prontos para voar, e depois se decompõem naturalmente.
Inicialmente, as liberações eram feitas por helicópteros, que conseguem transportar até 250 mil mosquitos por vez. Desde abril deste ano, porém, drones começaram a ser utilizados para o transporte, carregando até 23 mil mosquitos por voo.
Vantagem de drones
O uso de drones trouxe avanços significativos para o projeto, liderado pela coalizão Birds, Not Mosquitoes (BNM), que reúne organizações estaduais, federais, privadas e sem fins lucrativos.
“Com um drone, temos mais flexibilidade no tempo de lançamento em áreas que geralmente têm um clima muito imprevisível, e é mais seguro porque não é necessário que humanos pilotem ou façam parte da equipe”, disse Adam Knox, gerente da ABC.
Adaptar os drones para as condições do terreno havaiano foi um desafio. Engenheiros da ABC desenvolveram hardware específico para transportar e liberar as cápsulas de forma remota, garantindo a sobrevivência dos insetos frágeis.
Apesar de os helicópteros ainda serem a principal ferramenta, os testes com drones continuarão em áreas de clima adverso, com o objetivo de integrá-los gradualmente às operações.
Corrida contra o tempo
O kiwikiu, também conhecido como bico-de-papagaio de Maui, é uma das espécies ameaçadasDivulgação/American Bird Conservancy
A iniciativa é considerada crucial para a sobrevivência de várias espécies de aves do Havaí. Além da malária aviária, os pássaros ainda enfrentam ameaças como perda de habitat e predação por espécies invasoras, especialmente ratos.
As mudanças climáticas agravam o problema, permitindo que mosquitos invasores, como o Culex quinquefasciatus e o Aedes albopictus (transmissor da varíola aviária), alcancem altitudes mais elevadas, onde vivem as últimas populações de honeycreepers.
“Estamos em uma crise de extinção contínua”, disse Chris Warren, coordenador do programa de aves florestais do Parque Nacional Haleakalā, em Maui, em entrevista à rádio norte-americana NPR.