Bitolas diferentes entre Ribas e Corumbá encarecem transporte de minério e comprometem integração logística
- porRedação
- 29 de Maio / 2025
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| Créditos: Twitter/ Bill Cassidy
A proposta de solução consensual entre a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e a concessionária Rumo Malha Oeste prevê a modernização de apenas parte da ferrovia que liga Mato Grosso do Sul ao Sudeste, com impactos diretos na logística de escoamento do minério extraído em Corumbá. O novo traçado inclui a rebitolagem de 300 km entre Ribas do Rio Pardo e Três Lagoas para bitola larga (1,60 m), enquanto o trecho de Corumbá até Ribas permanece com bitola métrica (1,00 m), o que inviabiliza a passagem direta de composições entre os dois sistemas.
Essa descontinuidade impede o transporte ferroviário contínuo de Corumbá até o Porto de Santos (SP), principal rota de exportação. Para seguir viagem, o minério teria de ser transbordado – transferido de um trem para outro – em Ribas do Rio Pardo, o que eleva significativamente os custos operacionais. Estima-se que essa operação aumente de 15% a 30% o custo por tonelada transportada, devido à necessidade de estruturas de apoio como pátios de transbordo, guindastes e silos, além de demandar mais tempo e mão de obra especializada.
A fragmentação da malha também compromete a competitividade logística do modal ferroviário, que se destaca justamente por permitir o transporte de cargas pesadas em longas distâncias com menor custo. Sem a uniformização da bitola, a ferrovia perde essa vantagem, o que pode levar empresas a optarem pelo transporte rodoviário, mais caro e poluente.
Além disso, o novo acordo favorece os interesses da concessionária ao priorizar trechos economicamente viáveis para o transporte de celulose, excluindo trechos estratégicos para o Estado, como o ramal de Ponta Porã (355 km) e outros 800 km que cortam Mato Grosso do Sul. Esses trechos seriam reativados e rebitolados na proposta original da relicitação do contrato, interrompida pela ANTT em favor do acordo com a Rumo.
O Tribunal de Contas da União (TCU), por meio de despacho do ministro Aroldo Cedraz, criticou a ausência de respaldo jurídico no novo modelo, classificando-o como uma “remodelação completa e radical do contrato”. Cedraz também apontou falta de transparência no processo, já que a ANTT aprovou a realização de leilão em 19 de dezembro de 2024, mas dez dias depois mudou de posição e optou por uma solução consensual mantida sob sigilo.
A proposta atual prevê ainda a devolução de 1.600 km da malha ferroviária ao governo federal, sem especificar quais trechos serão desativados. Enquanto isso, projetos de modernização mais amplos, que exigiriam investimentos de até R$ 18,9 bilhões nos próximos 60 anos, como previsto na proposta de licitação de 2023, foram deixados de lado.
A decisão de manter bitolas diferentes e excluir trechos estratégicos para a economia de Mato Grosso do Sul, especialmente no setor mineral, representa um entrave à integração ferroviária nacional e um retrocesso logístico para o Estado.