A batalha jurídica para dar nome a cavalo brasileiro nas Olimpíadas
- porUOL
- 19 de Julho / 2024
- Leitura: em 6 segundos

Miss Blue, égua brasileira nas Olimpíadas | Créditos: Imagem: Luis Ruas
Miss Blue, Miss Blue Saint Blue Farm e Miss Blue Mystic Rose. A égua brasileira que se prepara para os Jogos Olímpicos não sabe, mas existe uma batalha jurídica para definir qual nome ela terá nas Olimpíadas. A da certidão de nascimento, a escolhida pela proprietária, ou uma versão livre de marcas comerciais, tal qual são os Jogos.
Convocada em conjunto com Yuri Mansur, Miss Blue é um animal da raça Brasileiro de Hipismo (BH) nascida em um haras brasileiro, o Rosa Mystica, e vendida com 1 ano e 8 meses para Thalita Olsen de Almeida, até hoje sua proprietária.
Como é comum, Miss Blue ganhou, ao nascer, o sobrenome do haras que a criou: 'Miss Blue Mystic Rose', assim em inglês. É esse nome que aparece nos seus dois passaportes brasileiros, da raça (no caso, emitido pela ABCCH) e da confederação de hipismo.
A diferença é que, ao chegar à maioridade, um humano pode escolher mudar seu sobrenome, até seu nome. Um cavalo, não. Ao menos, não pelas leis brasileiras. Mas, se for registrado em outro país, aí pode ter um "nome esportivo", reconhecido pela Federação Internacional de Hipismo (FEI). Foi o que aconteceu com a égua, registrada como "Miss Blue Saint Blue Farm" perante à federação real da Holanda em junho do ano passado.
"A Thalita comprou três animais meus em um leilão e me pediu para criar a Miss Blue até os três anos, quando poderia ser domada. Quando ela foi para o Yuri, já com oito anos, possivelmente por orientação dele mesmo, ela transferiu o animal para a Holanda, tanto que no site da FEI mudaram o nome primeiro para QH Miss Blue Saint Blue Farm", conta Nilson Leite, criador da agora égua olímpica e dono do Haras Rosa Mystica.
'QH', no caso, é a sigla de Quality Horses, empresa de Mansur, cavaleiro olímpico que fez carreira como importador de cavalos para o Brasil e chegou a ter sua prisão preventiva decretada por sonegar impostos e lavar dinheiro com o negócio de compra de animais no exterior para a venda deles no país. Ele se livrou de pena após fazer delação premiada.
Miss Blue fez o caminho contrário. Saiu daqui para ser registrada na Holanda com novos nomes. O atual leva o sobrenome "Saint Blue Farm", haras montado em 2023 pelo marido de Thalita, Guilherme de Almeida, campeão mundial de vela na classe Star.
Foi com esse nome que a égua ganhou em 2023 um GP em Aachen (Alemanha), considerado a meca do hipismo. Jozias Leite, fundador do Rosa Mystica, foi convidado por Thalita para subir ao pódio junto dela, que dois meses depois descobriu que estava sendo processada civil e criminalmente pelo haras da família Leite.
"Eu comprei esse animal com um ano e oito meses, ele é meu há quase uma década, desde 2015. Investi R$ 3 milhões para ele chegar onde ele chegou. Fui eu quem apostou R$ 300 mil para levá-lo à Europa. Podia dar certo, poderia não dar, e deu, sob meu risco. Eu considerava o Nilson meu amigo, era cliente dele, até que bate um oficial de Justiça na minha porta. Eu não vou perdoar isso nunca", critica a proprietária.