Vaticanistas apontam baixa probabilidade de brasileiros no próximo conclave

Dom Sérgio da Rocha, então arcebispo de Brasília, durante o encerramento da 49ª Assembleia Geral da entidade, no dia 4 de maio de 2011. | Créditos: JOSÉ PATRÍCIO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE/


No início de maio, 135 cardeais eleitores se reunirão na Capela Sistina, no Vaticano, para o conclave que elegerá o próximo papa.

Tecnicamente, qualquer homem católico pode ser eleito, mas, desde 1379, o escolhido é um cardeal – e sete brasileiros vão participar da votação.

A CNN consultou vaticanistas para entender quais as chances de um cardeal brasileiro suceder o papa Francisco.

Um especialista ouvido pela CNN, sob a condição de anonimato, vê poucas chances de um brasileiro ser eleito. No entanto, ele vê Dom Sérgio da Rocha como aquele com maior potencial.

“Se fosse colocar um brasileiro [na lista de cotados] seria ele”, relatou a fonte.

O atual arcebispo de Salvador nasceu em Dobrada, no interior de São Paulo. Ele foi ordenado padre em 1984 e proclamado cardeal pelo papa Francisco, em novembro de 2016.

O arcebispo de Brasília Sérgio Rocha (à direita) ao ser proclamado cardeal pelo papa Francisco em 19 de novembro de 2016, na Cidade do Vaticano.

O arcebispo de Brasília Sérgio Rocha (à direita) ao ser proclamado cardeal pelo papa Francisco em 19 de novembro de 2016, na Cidade do Vaticano. • Franco Origlia/Getty Images

Dom Sérgio é um brasileiro de destaque no governo do Vaticano e era próximo de Francisco.

No início de 2023, ele se tornou o primeiro brasileiro a ser indicado para integrar o Conselho de Cardeais (ou “C9”) – grupo criado por Francisco em 2013 com a tarefa de auxiliar o papa no governo da Igreja Católica e estudar um projeto de revisão da Cúria Romana (instituições administrativas da Santa Sé).

Jorge Claudio Ribeiro, professor de ciência da religião da PUC-SP, disse à CNN que “Dom Sérgio é [um nome] importante porque ele circula pela área internacional. Ele tem atuação grande junto aos fóruns do Vaticano”.

O jornalista Christopher Lamb, correspondente da CNN Internacional no Vaticano, afirma que o cardeal brasileiro Jaime Spengler é outro nome a ser observado pelo potencial de crescer nas próximas semanas – apesar de não ser considerado entre os favoritos.

Papa Francisco e dom Jaime Spengler • via CNBB

Lamb destacou que Spengler “demonstrou possuir fortes habilidades de liderança, tendo sido eleito para chefiar a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam)”.

Jaime Spengler nasceu em Gaspar, no interior de Santa Catarina. Atualmente, é arcebispo de Porto Alegre e foi o último brasileiro a ser proclamado cardeal, em dezembro de 2024. Ou seja, será o primeiro conclave que ele participará.

Os outros cardeais brasileiros eleitores – João Braz de Aviz, Odilo Scherer, Orani João Tempesta, Leonardo Ulrich Steiner e Paulo Cezar Costa – não circulam entre especialistas.

Vaticanistas veem poucas chances para brasileiros

Diferentemente do conclave de 2013, quando Dom Odilo Scherer aparecia entre os principais cotados, dessa vez os brasileiros não constam na maioria das projeções que circulam entre os especialistas.

O sociólogo e ex-coordenador do Núcleo “Fé e Cultura” da PUC-SP, Francisco Borba, explicou que “como Francisco foi um papa sul-americano, a tendência dos cardeais será olhar para outros continentes ao pensarem no próximo papa”.

“Seria uma surpresa do Espírito Santo dois papas sul-americanos em sequência”, acrescentou Borba.

Em entrevista ao analista da CNN Pedro Venceslau, o frei dominicano e teólogo Frei Betto avalia: “Depois de um papa argentino, não vejo nenhuma chance de um brasileiro no conclave. Minha percepção é que vai haver continuidade e minha intuição é que os italianos despontam como favoritos.”

Vaticanistas consultados pelo analista da CNN Pedro Duran acrescentaram que a escolha de outro papa latino-americano seria um evento “inusitado” e “inesperado”.

Já o professor de Teologia da PUC-SP, Reuberson Ferreira, pondera que o fato de um cardeal ser cotado como forte candidato, não representa necessariamente algo decisivo.

Ele acrescenta que as congregações gerais, que reúnem os cardeais em Roma antes do conclave, “vão traçar o perfil de papa que pode responder aos problemas atuais da Igreja”. O primeiro encontro aconteceu nesta terça-feira (22).

“De modo que, embora não constem nas listas dos ‘papabili’, todo cardeal pode ser papa, inclusive os brasileiros”, afirmou à CNN.

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