Startup pernambucana testa IA para diagnóstico precoce de leucemia no SUS

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Um grupo de médicos pernambucanos tem o objetivo de transformar como funciona a triagem de doenças do sangue no Sistema Único de Saúde (SUS). A startup HemoDoctor desenvolveu uma plataforma baseada em inteligência artificial (IA) que consegue analisar hemogramas automaticamente, assim como levantar hipóteses diagnósticas e sugerir exames complementares. 

Esses recursos podem ajudar a antecipar o diagnóstico de doenças graves como leucemias, mielodisplasias e mieloma múltiplo. A estimativa da startup é que a ferramenta possa contribuir para uma economia anual de até R$ 300 milhões ao sistema público de saúde, considerando a redução de internações e tratamentos complexos.

Segundo a Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (ABHH), o Brasil contava, em 2024, com apenas 3.271 hematologistas, profissionais responsáveis pelo diagnóstico e tratamento de doenças do sangue. Além da baixa quantidade, também existe desigualdade na distribuição desses profissionais pelo território nacional. Em conjunto à complexidade diagnóstica dessas condições, há dificuldade no acesso ao tratamento especializado, especialmente nas regiões mais remotas.

Carlos Rolemberg, executivo do setor de onco-hematologia e um dos fundadores da startup, afirma que a inteligência artificial pode colaborar no suporte aos médicos das regiões sem especialistas com diagnósticos assertivos.

Reforço no SUS

A proposta dos médicos é bem-vinda ao SUS, já que em 2022 foram destinados R$ 4 bilhões ao tratamento oncológico, segundo o Ministério da Saúde. A leucemia está entre as principais causas de internação e procedimentos de alta complexidade. 

Casos de Leucemia Linfoide Aguda e Leucemia Mieloide Aguda costumam exigir internações prolongadas, com média de 25 dias, com quimioterapia intensiva e suporte clínico. Custos com diárias hospitalares podem variar entre R$ 62,5 mil e R$ 100 mil por ciclo.

“Somando os gastos com suporte clínico, terapias-alvo e transplante, o tratamento de um único paciente pode chegar a R$ 1 milhão, sem contar os custos indiretos, como perda de produtividade, deslocamentos e impacto emocional das famílias”, destaca Raphael Saraiva, especialista em saúde digital. 

Um dos principais diferenciais da ferramenta é a atuação junto à atenção primária, onde os hemogramas costumam ser avaliados por clínicos gerais. “Esses profissionais normalmente se concentram em alterações mais comuns ou relacionadas à sua área. Quando identificam uma anemia, por exemplo, a conduta mais frequente é prescrever ferro, sem investigar a origem”, explica Lucyo Diniz, médico onco-hematologista e sócio da startup.

Prova de conceito

Em uma prova de conceito realizada no Hospital da Unimed em Petrolina (PE), a plataforma analisou mais de 600 hemogramas com 94% de especificidade e baixíssimo índice de erro, validando sua eficácia em ambiente real. 

Além de encurtar o tempo até o diagnóstico correto, a tecnologia ajuda a reduzir filas, priorizar casos críticos e prevenir internações, transfusões e tratamentos tardios.

As próximas versões da plataforma devem incluir funcionalidades de tele-hematologia e dashboards epidemiológicos, oferecendo suporte remoto a médicos e gestores da saúde pública.

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