“Celebração e Luta: Os 30 Anos da Aldeia Marçal de Souza”

| Créditos: Foto: Renan Reis


O sábado, 21 de junho de 2025, foi um daqueles dias que marcam a alma. Após longos seis anos, tive a alegria de reencontrar os amigos indígenas da Aldeia Marçal de Souza, em Campo Grande, que celebravam seus 30 anos de existência. A festa era vibrante, um verdadeiro mergulho na cultura Terena, com a melodia do Hino de Campo Grande em sua língua nativa, conduzido pelo Professor Itamar Jorge, e a energia contagiante das danças Kadiwéu, Kiapé e a delicadeza do Sipúterena, exclusiva das mulheres. O som do DJ Marcos Terena e o baile com Ebert Tiã embalavam a noite, reforçando a importância dessa comunidade indígena urbana.

A ocasião se tornou ainda mais especial pela presença de amigos que acabavam de chegar de São Paulo e que, pela primeira vez, tiveram a oportunidade de conhecer de perto a riqueza de uma cultura indígena. Seus olhos brilhavam, deslumbrados com a experiência ímpar de ver um povo que ainda cultiva e preserva suas raízes com tamanha força. Fomos recebidos com a hospitalidade calorosa do Cacique Josias Jordão Ramires, que nos falou sobre a festividade e a história de sua aldeia, reconhecida oficialmente em 1995 em homenagem ao líder Terena Marçal de Souza, assassinado em 1983 por lutar pelos direitos de seu povo.

| Créditos: Foto: Alcina Reis

| Créditos: Foto: Renan Reis

Minha mãe, Maria Eliza, minha irmã, Fátima Reis, meu filho, Renan, e meu genro, Renato, que já têm mais familiaridade com eventos assim, também estavam estasiados com a beleza e a autenticidade da celebração. A Aldeia Marçal de Souza, localizada no Bairro Jardim Noroeste, é um dos poucos exemplos de comunidade indígena urbana no Brasil, e a população se esforça para manter vivas tradições como o artesanato de cerâmica, o "jatobá" (pintura corporal) e o "xondaro" (luta tradicional), mesmo diante de desafios como a regularização fundiária e a pressão urbana.

| Créditos: Foto: Alcina Reis

Os Desafios Persistentes e a Ausência do Poder Público

No entanto, nem tudo são flores nessa celebração de vida e resistência. Ao observar a Aldeia Marçal de Souza, ficou evidente que, apesar de alguns avanços conquistados, a comunidade ainda clama por um apoio mais efetivo do poder público. Durante toda a festividade, a ausência de representantes governamentais foi notável, um contraste gritante com os anos políticos, onde tantos permeiam entre os indígenas em busca de votos e visibilidade.

É inegável que os povos indígenas enfrentam desafios complexos e multifacetados. A regularização fundiária é um problema constante, que gera insegurança e dificulta o desenvolvimento sustentável das comunidades. A pressão urbana, com a expansão das cidades, ameaça seus territórios e suas formas de vida tradicionais. Projetos educativos e culturais são a principal ferramenta de resistência, mas a responsabilidade de garantir a dignidade e os direitos desses povos não pode recair apenas sobre eles.

| Créditos: Foto: Alcina Reis

A celebração dos 30 anos da Aldeia Marçal de Souza foi um lembrete poderoso da resiliência e da riqueza cultural dos povos originários. Contudo, foi também um alerta para a urgência de um olhar mais atento e ações concretas por parte do poder público. É fundamental que as políticas públicas sejam efetivas, garantindo não apenas o direito à terra, mas também o acesso à saúde, educação de qualidade e oportunidades que respeitem suas tradições e modo de vida.

| Créditos: Foto: Alcina Reis


A ausência do poder público em momentos tão significativos como este demonstra uma lacuna que precisa ser preenchida. Os indígenas não precisam apenas de promessas em tempos de eleição, mas de um apoio contínuo e comprometido com a sua causa. Que a festa de 30 anos da Aldeia Marçal de Souza sirva não apenas como um momento de alegria e celebração, mas também como um chamado à ação para que a sociedade e o poder público reconheçam e apoiem a luta desses povos por um futuro com mais justiça e respeito.

O que você acha que precisa mudar para que o poder público realmente se faça presente e atuante na vida dessas comunidades?

Por Alcina Reis

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