O Caso dos R$ 20 Milhões: “Quando a Dúvida Reina”
- porPor Alcina Reis
- 15 de Setembro / 2024
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| Créditos: Foto: Reprodução/O Jacaré
Em um julgamento que ecoará por muito tempo nos corredores do poder em Mato Grosso do Sul, o juiz Eduardo Eugênio Siravegna Júnior escreveu um capítulo surpreendente na história recente do estado: a absolvição de um grupo de cinco acusados de um suposto esquema de desvio milionário no Detran-MS.
Entre os absolvidos, figuras de destaque como o ex-diretor-presidente do órgão, Carlos Henrique dos Santos Pereira, e o empresário João Roberto Baird, conhecido como o "Bill Gates Pantaneiro".
A trama se desenrola como um intrincado romance policial, repleto de reviravoltas e suspense. As acusações, inicialmente, pareciam sólidas: fraude em licitações, superfaturamento, subcontratações obscuras... Um quebra-cabeça de irregularidades que, segundo o Ministério Público Estadual, teria desviado mais de R$ 20 milhões dos cofres públicos.
O MP pintou um quadro de conspiração, com empresas interligadas por laços suspeitos e relações pessoais que transcenderiam o mero profissionalismo, tudo em nome do lucro fácil às custas do contribuinte. Nomes como o da "Itel Informática", do "Consórcio REG-DOC" e da "Master Case Digital" se tornaram personagens centrais nesse drama judicial, cada um com seu papel em uma trama que parecia ter todos os elementos de um escândalo de grandes proporções.
Mas, como em todo bom suspense, a narrativa sofreu uma reviravolta inesperada.
O juiz Siravegna Júnior, em uma sentença meticulosa de 45 páginas, desmontou as alegações da acusação com a precisão de um cirurgião. Os "indícios" apresentados, antes tão convincentes, revelaram-se frágeis sob o escrutínio judicial. A relação entre os acusados, apontada como prova de conluio, não implicava necessariamente irregularidades.
As movimentações financeiras, embora "expressivas", não foram devidamente esclarecidas pela acusação, deixando margem para a dúvida.
A absolvição, claro, não apaga as cicatrizes deixadas por essa longa batalha judicial. A busca e apreensão na residência de um dos acusados, a exposição midiática implacável, os anos de incerteza e angústia... Essas marcas, como tatuagens na alma, acompanharão os envolvidos por muito tempo. Mas, por ora, a sombra da dúvida se impõe sobre o caso. E, na dúvida, a justiça se inclinou para o princípio basilar da presunção de inocência.
O Ministério Público ainda pode recorrer, e a batalha judicial talvez esteja longe do fim. Novos capítulos podem ser escritos, novas reviravoltas podem surgir. Mas, nesta crônica da absolvição, o capítulo atual termina com um final em aberto. E, como em toda boa história, o desfecho promete ser surpreendente, mantendo o público - e os próprios personagens - em suspense, aguardando o próximo ato desse drama judicial que ainda ecoa nos corações e mentes dos sul-mato-grossenses.
Por Alcina Reis
Fonte: O Jacaré
Jornalista Alcina Reis | Créditos: Arquivo pessoal