No coração do Centro-Oeste brasileiro, a cidade de Nioaque, habitada por pouco mais de 13 mil pessoas, guarda segredos que remontam a 140 milhões de anos. Nessa época, o local possivelmente abrigava um vale de dinossauros, conforme revelam pesquisas conduzidas por paleontólogos do Mato Grosso do Sul e do Rio de Janeiro.

Descobertas inicialmente em 1990 às margens do rio Nioaque, as pegadas foram alvo de intensas escavações e estudos ao longo dos anos. A identificação das espécies ocorreu apenas em 2021, quando cientistas do Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM) publicaram suas conclusões no "Journal of South American Earth Sciences", uma revista científica dedicada às ciências da terra.

Apesar de marcas nas rochas sugerirem pegadas, o pesquisador Sandro Scheffler, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), esclarece que, no sítio em questão, apenas duas pegadas foram comprovadas, enquanto outras são concreções, podendo ser confundidas com icnofósseis, registros geológicos de atividade biológica.

O paleontólogo Rafael Costa da Silva, integrante do grupo de pesquisa, destaca que os estudos não se limitaram aos resultados iniciais, mas, ao contrário, estimularam a continuidade das investigações. Moldes de silicone, tecnologias de modelagem digital e a preservação tridimensional das pegadas foram alguns dos avanços tecnológicos empregados.

Mesmo sem identificar as espécies específicas, foi possível concluir que os dinossauros que habitavam a região eram carnívoros e herbívoros, variando de um a seis metros de comprimento. Além das pegadas, fósseis de invertebrados foram coletados em tocas cavadas por animais extintos, conhecidas como paleotocas.

As rochas que preservam as pegadas confirmadas são do tipo Botucatu, características de um vasto deserto que se estendia entre o Uruguai e o Mato Grosso do Sul. "Neste arenito, descobrimos que, na época desértica que hoje é Nioaque, existiam rios. Eram rios e desertos", explica Rafael.

O título "Vale dos Dinossauros" já figura no monumento de entrada da cidade, podendo em breve ser oficializado como cognome de Nioaque, conforme projeto de lei em tramitação na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul. Apesar de poucos habitantes terem presenciado as pegadas, a cidade abraça a fama dos dinossauros, representados em estátuas, pinturas e até mesmo em lanches vendidos por lanchonetes locais.

Em 2023, o programa "+Natureza" explorou a cidade, revelando o passeio que conduz os visitantes pelo "Vale dos Dinossauros", proporcionando uma experiência única para quem deseja testemunhar esses vestígios jurássicos.

Com informações do G1