Ibovespa tem mínima do ano, com fiscal, Lula e Haddad, após juros e inflação nos EUA
- porInfoMoney
- 12 de Junho / 2024
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| Créditos: Reprodução/Infomoney
Ao deitar a cabeça no travesseiro, o investidor provavelmente estará com os neurônios fervendo e se perguntando: “que quarta-feira foi essa?”. Foi, de fato, um dia para muitos adjetivos: esquisito, turbulento, estranho, nervoso, tenso. No final, o Ibovespa terminou a loucura toda com baixa ampla de 1,401%, aos 119.936,02 pontos, uma perda de mais de 1.800 pontos, no menor patamar desde 10 de novembro de 2023 – e lá se vão 8 meses. O dólar comercial encerrou o dia com outra forte alta, com 0,91%, a R$ 5,41.
O motivo de tudo isso? Não há um, porque na verdade há vários. Para começar, antes da abertura do mercado, saiu a Pesquisa Mensal de Serviços no Brasil, com crescimento de 0,5% em abril. Claudia Moreno, economista do C6 Bank, ressalta que a alta de abril no setor de serviços brasileiro, depois de um trimestre com dados positivos, “corrobora a ideia de expansão da atividade econômica brasileira para o segundo trimestre, nossa projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2024 continua sendo de 2,2%”. Aqui, tínhamos um ponto positivo. Era apenas nove horas da manhã.
Meia hora depois, saiu um dos dados mais esperado do dia: a inflação ao consumidor (CPI) de maio nos EUA. E uma boa notícia: o dado veio estável, mais suave do que se esperava. Outra boa notícia. “O resultado vem na direção que o Fed gostaria e deve dar maior tranquilidade para a reunião de hoje. De modo geral, foi um resultado bem ameno, com as tendências de altas sendo revertidas, tanto na média móvel de 6 meses quanto na de 3 meses, reduzindo os temores de uma reaceleração inflacionária”, pontuou André Valério, economista sênior do Inter.
Era apenas nove e meia da manhã e àquele momento, analistas como Alex Andrade, sócio da Swiss Capital Invest, ressaltavam que o CPI de maio é um indicativo de que a pressão inflacionária pode estar começando a se estabilizar, após meses de aumentos significativos. Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, “isso aumenta as apostas de que haverá cortes de juros pelo Fed num prazo não tão longo, talvez um primeiro corte em setembro ou de repente em novembro, mas agora com esse dado é bem provável que os investidores vão voltar a enxergar dois cortes de juros em 2024, primeiro em setembro, segundo em dezembro”.
Eis que os mercados abriram. O Ibovespa subia e Wall Street também. Mas… As coisas mudaram. Especialmente no Brasil, e mudaram radicalmente. No Rio de Janeiro, em evento para recepcionar investidores da Arábia Saudita, o presidente Lula disse uma frase que causou arrepios nas sensibilidades do mercado na questão fiscal.
“Lula indicou que há uma perspectiva de redução do déficit primário no Brasil ou do déficit público, porém atribui a possibilidade da queda primariamente ao aumento da arrecadação. Ele, por exclusão, acaba deixando de fora o controle de gastos públicos, que é a parte que os investidores mais se preocupam no momento, ou seja, de que o governo está buscando o equilíbrio das contas públicas aumentando gastos e aumentando mais ainda a arrecadação. Essa mesma percepção é reforçada no final da frase, quando diz que não vai comprometer a capacidade de investimento público”, contou Mattos, da StoneX.
O dólar comercial disparou nesse momento. A Bolsa começou a desidratar. Mas a derrocada mesmo veio com a notícia de que aliados e opositores veem ataque a Haddad gestado dentro do governo Lula. Segundo Daniela Lima, da Globonews, que ouviu parlamentares, a recusa recente de propostas do ministério da Fazenda para aumentar a arrecadação pode ter objetivo de atingir Fernando Haddad e estaria sendo gestada dentro do Planalto. A retirada pelo presidente do Senado da MP que restringira crédito às empresas de Pis/Cofins pode ter “salvo” Lula, disse colunista
Valdo Cruz, também da Globonews. O presidente já havia declarado que retiraria a MP sem que Haddad tivesse conhecimento da posição de Lula. Rodrigo Pacheco aplicou então a retirada como se fosse uma decisão do Senado, evitando que Lula se desgastasse com Haddad por tomar uma decisão sem consultá-lo.
O próprio Haddad teria admitido que a MP das compensações da desoneração foi editada em momento errado, quando estava em viagem ao exterior. Seu mea culpa de pouco adiantou: às 11h30, o Ibovespa derretia, a despeito da alta lá fora, em Nova York, e o dólar disparava.
Marcelo Boragini, sócio e especialista em renda variável a Davos Investimentos, disse que o mercado “exagerou nas oscilações de hoje”. “Além disso, comenta-se nos bastidores que o ministro Haddad está sob grande pressão e possivelmente prestes a deixar o cargo, “mas isso parece ser mais boato do que fato”.
Acontece que nem lá fora o dia havia garantido tranquilidade. Às 15h, o Fed mantinha a taxa de juros no mesmo patamar, como esperado, mas indicava que apenas um corte poderia acontecer este ano, derretendo as esperanças dos dois cortes, como os analistas imaginavam. O Dow Jones que vinha perdendo fôlego, chegou a virar, embora S&P 500 e Nasdaq tenham mantido altas firmes.
“A inflação de hoje foi um dado encorajador, foi melhor do que qualquer pessoa poderia imaginar, mas veio depois de vários dados que não foram encorajadores”, disse o presidente do Fed, Jerome Powell. “Temos que deixar os dados iluminar o caminho”, poetizou.
Assim, não teve remédio para o que aconteceu de manhã e o Ibovespa terminou com apenas nove ativos no azul. Todo o resto caiu. Entre esses, destaque para Embraer (EMBR3), com alta de 3,01%, e para MRV (MRVE3), com mais 1,02%.
Os nomes mais pesados do índice também caíram: Petrobras (PETR4) recuou 2,41% e Vale (VALE3) perdeu 1,38%. Os bancos tiveram perdas amplas, com Bradesco (BBDC4) caindo 1,86% e novamente a ação mais negociada do dia, com o dobro de PETR4, a segunda colocada.
O dia chegou ao fim, sem pedra sobre pedra aqui no Brasil. Agora, é bater a poeira e ver o que esta quinta-feira aguarda. Se não tiver esse turbilhão que foi hoje, pode já ser uma vitória. (Fernando Augusto Lopes)
Confira as últimas dos mercados
17h16
Ibovespa fechou ontem com baixa de 1,40%, aos 119.936,02 pontos
Máxima: 122.482,51
Mínima: 119.544,21
Diferença para a abertura: -1.699,04 pontos
Volume: R$ 44,10 bilhões
Confira a evolução do IBOV durante a semana, mês e ano:
Segunda-feira (10): -0,01%
Terça-feira (11): +0,73%
Quarta-feira (12): -1,40%
Semana: -0,69%
Maio: -1,77%
2T24: -6,38%
2024: -10,62%