Nos últimos meses, um número crescente de brasileiros tem deixado a Argentina em busca de melhores condições de vida no Paraguai, impulsionados pelo aumento expressivo do custo de vida em Buenos Aires e outras regiões do país. O estudante Lucas dos Anjos, de 22 anos, que vivia na Argentina desde 2019, decidiu se mudar há seis meses devido ao impacto dos preços inflacionados sobre seu orçamento.

Lucas, que saiu de Suzano, em São Paulo, para estudar medicina em Buenos Aires, inicialmente encontrou na Argentina uma alternativa econômica viável. No entanto, o cenário mudou drasticamente após a pandemia de COVID-19, e a situação se agravou com a posse do presidente Javier Milei em dezembro de 2023. O aluguel de seu apartamento, que custava R$ 300 quando ele chegou ao país, saltou para R$ 2 mil no início deste ano, tornando inviável sua permanência.

"O custo de vida subiu de forma alarmante. Produtos básicos, como arroz, passaram de R$ 2 para R$ 10. A situação se tornou insustentável", relata Lucas, que viu suas despesas mensais aumentarem de R$ 600 para mais de R$ 3 mil.

A Argentina, sob o governo de Milei, enfrenta um rigoroso ajuste econômico. Com uma inflação descontrolada e uma dívida pública crescente, o novo governo implementou cortes nos gastos públicos, eliminou subsídios essenciais e paralisou obras federais. Essas medidas, embora visassem estabilizar a economia, resultaram em um aumento significativo no custo de vida, afetando profundamente tanto argentinos quanto brasileiros residentes no país.

Diante dessa realidade, Lucas decidiu se mudar para Ciudad del Este, no Paraguai, onde relata uma significativa melhora na qualidade de vida. "Aqui, consigo comer bem sem me preocupar se terei comida até o fim do mês. A vida é bem mais barata", afirma.

Lucas não está sozinho. Muitos brasileiros que viviam na Argentina também optaram por deixar o país devido à disparada dos preços. Um levantamento do Centro de Estudos Scalabrini Ortiz revelou que, no último ano, os aluguéis de imóveis na Argentina subiram entre 285% e 309%. Essa alta foi impulsionada pela revogação de uma legislação que limitava os reajustes, permitindo que os proprietários cobrassem aluguéis em dólares.

Além do aumento nos aluguéis, os preços dos alimentos e dos planos de saúde também subiram drasticamente. A médica brasileira Amanda Oliveira, que vive há 14 anos em Buenos Aires, está considerando voltar ao Brasil após ver seu aluguel aumentar em mais de 270%. "Tudo aqui ficou imprevisível. Não sabemos o que esperar para o futuro", diz Amanda, que está se preparando para fazer o exame de revalidação de seu diploma de medicina no Brasil.

A transformação econômica em curso na Argentina, com cortes de gastos públicos e desregulamentação de preços, trouxe desafios significativos para a população, especialmente em um contexto de hiperinflação. Embora o governo Milei tenha alcançado um superávit orçamentário, a inflação permanece alta, impactando severamente o custo de vida.

Diante desse cenário, o Paraguai tem se mostrado uma alternativa atraente para muitos brasileiros que buscam estabilidade e uma vida mais acessível. Com uma das maiores comunidades de brasileiros no exterior, o Paraguai oferece um custo de vida mais baixo, tornando-se o destino escolhido por aqueles que deixam a Argentina em busca de melhores oportunidades.

Fonte: Folha de São Paulo