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Após assistir ao primeiro dia de julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e mais sete acusados pelos ataques de 8 de janeiro, reflito:
O ex-presidente Jair Bolsonaro e mais sete rostos na berlinda, acusados de tramar a implosão da nossa democracia naquele fatídico 8 de janeiro. As sedes dos três poderes, outrora símbolos da república, transformadas em escombros por uma fúria que, à primeira vista, parecia inexplicável.
A acusação martela: "trama golpista". Um plano ardiloso, rascunhado em algum canto obscuro, que teria inflamado a turba a marchar sobre Brasília na vã tentativa de impedir a posse de Lula. As investigações da Polícia Federal, qual detetive incansável, teriam desenterrado as provas desse conluio.
Do outro lado do ringue jurídico, a defesa brande a inocência como um escudo. Jamais, em tempo algum, teria existido sequer um "pensamento" golpista na mente do ex-mandatário. Os manifestantes, ah, esses agiram por conta própria, movidos por uma indignação espontânea, sem qualquer sopro ou direção vinda de cima. Para mim, confesso, a palavra "manifestantes" soa suave demais para descrever a horda que depredou e destruiu. Vândalos, sim, essa é a palavra que me vem à mente.
E nesse embate de versões, uma sombra paira sobre o plenário: a alegada falta de completa imparcialidade do Supremo Tribunal Federal em algumas de suas decisões. Se, porventura, Bolsonaro não for o maestro daquela sinfonia de destruição, apesar de ser inegável a força de suas palavras e a contundência de sua postura em inflamar os ânimos, será que terá um julgamento justo? A dúvida nos rói por dentro.
Mas há um ponto de convergência, uma ilha de concordância nesse mar de acusações e negações:
Os protagonistas daquele triste espetáculo vestiam, inequivocamente, as cores da direita. O verde e o amarelo, antes símbolos de união e esperança, naquele dia pareciam a farda de uma ideologia radicalizada. E é aí que a pulga coça atrás da orelha.
Quem poderá salvá-los agora? Esses que, imbuídos de uma fé cega em um líder, se lançaram à destruição? O que ganharam além das celas frias, do afastamento dos seus lares e do estigma indelével de criminosos? Uma mancha em suas fichas que nem o Chapolim Colorado, com suas anteninhas mágicas, conseguiria apagar.
E a pergunta que não quer calar, que me assalta a mente:
e se, naquele fatídico dia, as ruas estivessem tomadas por camisas vermelhas e a situação fosse inversa? A destruição seria vista como "trama golpista" ou como a justa fúria de um povo injuriado? A resposta, caro leitor, paira no ar, carregada de subjetividade e do peso das nossas próprias convicções.
Pensemos nisso com a serenidade que o momento exige. Que este episódio sirva de lição para todos nós. Que nossas energias e paixões sejam direcionadas para a defesa de causas nobres, de projetos que visem o bem comum, e jamais para a idolatria cega de figuras políticas, por mais carismáticas que pareçam. Porque, no final das contas, as cores da nossa verdadeira bandeira devem ser as da justiça, da igualdade e do respeito à democracia, valores que transcendem qualquer espectro ideológico.
Por Alcina Reis
Jornalista Alcina Reis | Créditos: Arquivo pessoal