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Primeiro de maio. Um feriado no calendário, um marco na história e uma pausa simbólica para aqueles que não têm o luxo de parar. É o Dia do Trabalhador, mas deveria ser chamado, sem rodeios, de Dia da Maioria. Porque é disso que se trata: da grande massa que move o mundo com suor, mas que raramente vê a cor do reconhecimento.
"Dia da Maioria", pensei, enquanto tomava um café amargo.
Enquanto os discursos oficiais exaltam conquistas trabalhistas, há uma verdade que permanece engasgada nas gargantas secas de tantos: a desigualdade salarial é um abismo que insiste em não se fechar.
Quem lava a roupa, cozinha o almoço, varre o chão do escritório, planta e colhe o alimento que chega à mesa — muitas vezes não tem sequer acesso digno à própria mesa. É uma ironia cruel: o país se apoia nos ombros de quem recebe menos.
Enquanto uns celebram o feriado em coberturas com vista panorâmica, outros contam moedas para pagar o gás. Alguns fazem home office com café importado; outros enfrentam ônibus lotados e salários achatados para garantir o essencial.
Não há mérito que justifique a diferença de dezenas, centenas ou milhares de vezes entre salários de quem manda e de quem obedece. Trata-se de justiça e a justiça, quando é só para poucos, muda de nome.
Hoje, como em todos os outros dias, o trabalhador levanta cedo. Com ou sem discurso bonito, com ou sem direitos garantidos. Mas este 1º de maio deveria ser mais que uma data. Deveria ser um espelho incômodo para os que vivem confortavelmente do trabalho alheio.
Celebrar o trabalhador é pouco. É preciso corrigir o erro que alimenta a desigualdade: pagar mal a quem mais contribui.
Porque, no fundo, o Dia do Trabalhador é, sim, o Dia da Maioria. Mas a maioria ainda espera por um país que a reconheça — não com palmas, mas com respeito, salário justo e oportunidade real.
Por Alcina Reis
Jornalista Alcina Reis | Créditos: Conteúdo MS