Brasil

Deputados pedem que exposição retire peça que ilustra Virgem Maria nua e com órgão masculino

Artistas, cujas obras estão expostas no Centro Cultural Helio Oiticica, estão sendo ameaçados na internet

Via Redação | Publicado por Administrador | às 06:53:08

'Deus acima de tudo, gozando acima de todos' diz inscrição no quadro, formado por um quebra-cabeça Foto: Reprodução

Deputados estaduais se mobilizam contra exposições no Centro Cultural Hélio Oiticica e pediram ao prefeito Marcelo Crivella a censura de obras. Nesta quinta, o deputado estadual Capitão Paulo Teixeira (Republicanos) pediu a a retirada de uma peça da residência artística Lavra, que faz alusão a relação do autor com a Aids e que ilustra a Virgem Maria com um seio nu e um órgão masculino, com a inscrição “Deus acima de tudo, gozando acima de todos”. O também parlamentar Márcio Gualberto (PSL), ligado à igreja católica, já havia se posicionado, pedindo, nas redes sociais, em plenário e em ofício, explicações à casa cultural e ao município. Outros alvos foram a exposição Cine Desejo, e a obra “Trabalho Doméstico”. Amedrontados, os artistas dizem que receberam ameaças na internet.

No primeiro andar do espaço, está em cartaz a exposição Cine Desejo, da artista Carolina Valansi, com referência a imagens e cartazes da indústria de cinema pornográfico. Já o segundo andar está abrigando a residência artística Lavra. Inaugurado no último sábado, o trabalho reúne seis residentes, que são alunos e formandos da UFRJ, que convidaram mais de 50 artistas para expôrem obras obras e realizarem performances experimentais sobre o corpo e trabalho.

Na manhã desta quinta, uma equipe da secretaria municipal de Cultura esteve no espaço e pediu que a classificação, que era de 10 anos, fosse mudada para 16 anos. As peças ainda estão na exposição. Por enquanto, o Centro Cultural informa que não recebeu qualquer determinação para retirá-las. Procurada, a prefeitura ainda não se manifestou.

Na quarta, o deputado Marcio Gualberto esteve no centro cultural, e filmou as obras que ele julgou ofensivas. Depois, ele enviou um requerimento de informações ao prefeito Marcelo Crivella e ao secretário de Cultura Adolfo Konder pedindo explicações e informações sobre o trabalho. Seu principal alvo foi a obra “Todxs xs santxs - renomeado - #eunãosoudespesa”, de Órion Lilla, que utiliza a imagem de Virgem Maria.

“O espaço, da Secretaria Municipal de Cultura do Município, dedicado à diversidade da produção artística contemporânea, exibe um absurdo escárnio da fé cristã. Um ultraje aos símbolos religiosos e até mesmo a valores caros ao Presidente da República. Isso é liberdade de expressão? Vou pedir explicações aos responsáveis pelo espaço e à Prefeitura do Rio de Janeiro”, afirmou Gualberto em sua rede social, em texto acompanhado de um vídeo onde ele visita a peça na exposição.

— Não se trata de censura. A lei não permite censura. Mas também não permite que se cometa vilipêndio ao sentimento religioso, seja qual for a crença: católico, espírita, evangélico… — disse Paulo Teixeira, que encaminhou um pedido a Crivella para que ordene a retirada do quadro.

A obra faz parte de uma série que fala sobre o HIV. O artista, o paulista de 25 anos Órion Lalli é soropositivo e militante da causa LGBTQ+. Antes mesmo da exposição, quando ainda estava desenvolvendo o trabalho, Lalli diz que passou a receber ameaças na internet.

— Não sei quem era, porque sempre trocava de perfil no instagram. Mas a pessoa me mandava fotos minhas na rua e me ameaçando — afirma ele, que está com medo do que pode vir a acontecer. — Não sei para onde corro, não sei se tenho respaldo da polícia, até porque o deputado Gualberto é inspetor da polícia civil. Não sei o que fazer, estou perdido. Meu medo é como me protejo agora. Fica claro que estamos vivendo numa ditadura.

(O Globo)

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