Com crescimento do PIB em 8,1%, a China viveu uma boa maré econômica no ano passado, contudo, analistas não acreditam que esse sucesso acontecerá novamente em 2022. A Sputnik Brasil entrevistou economista para saber o porquê.
De acordo com o Escritório Nacional de Estatísticas (NBS, na sigla em inglês), o Produto Interno Bruto (PIB) da China cresceu 8,1% em 2021 e acelerou em relação à alta de 2,2% em 2020.
Ainda que diante da crise instaurada pela pandemia da COVID-19, a economia do gigante asiático apresentou bons índices no final do ano, como o aumento de 4,3% da produção industrial e o crescimento de 4,9% em investimentos em ativos fixos - quando comparados ao mesmo período em dezembro de 2020.
No entanto, especialistas preveem que essa “boa maré econômica chinesa” não se repetirá em 2022.
A Sputnik Brasil entrevistou Roberto Dumas, professor de economia chinesa no Insper, Instituto de Ensino e Pesquisa de São Paulo, para saber o que fez alavancar a economia do gigante asiático em 2021 e quais motivos levariam a China, mesmo em um momento monetário próspero, a não ter o mesmo sucesso neste ano.
Dumas credita o crescimento do PIB chinês às exportações, que mesmo durante a pandemia, continuaram fortes devido à alta demanda de suprimentos médicos e de tecnologias como tablets, celulares, computadores na preparação das casas para atender ao novo modelo de trabalho de home office impulsionado pelas restrições sanitárias.
“A maior parte dos insumos para produção dessas tecnologias vem de outros países, mas o produto final é chinês, que exporta para o mundo todo [...] 45% do que a China exporta, são insumos importados que acabam sendo montados dentro do país.”
No entanto, o especialista considera que próspero aumento do PIB vivido por Pequim em 2021, não se repetirá em 2022, e que o PIB “para esse ano deve ficar em torno de 4,5% e 5% por uma série de idiossincrasias”.
“Primeiro a política de ‘COVID-19 zero’, que impõe uma série de lockdowns em lugares importantes para produção chinesa, por exemplo o lockdown na província de Xian, lugar de fabricação dos chips da Samsung [...]. Ao mesmo tempo, o mundo não vai mais importar tanto equipamento eletrônico como importou em 2021 [...] e junto a isso há os Jogos Olímpicos de Inverno, que o país vai parar para assistir culminando com o feriado lunar”, explica.
Outro ponto citado por Dumas, que dificultará a repetição da “bora maré econômica” chinesa, é a crise da a segunda maior empresa imobiliária chinesa, a Evergrande, uma vez que essa crise foi “vivida em partes em 2021, mas em 2022 vai pegar o ano todo”.
“O setor não vai ser tão benéfico para o crescimento econômico chinês como foi em 2020-2021”, diz o professor, salientando que o cenário imobiliário chinês também vai impactar o Brasil, visto que “a demanda de importação de minério de ferro não será tão alta porque a construção de casas e de infraestrutura na China não crescerá como o mercado está esperando”.
“[Em um lado positivo] A economia chinesa pode se beneficiar com o 5G, mas todas aquelas condições que vimos em 2021 não se repetirão em 2022. Se falarmos de um crescimento de 4,5%, 5%, é um ótimo índice, mas para China, não. Será o mais baixo desde 1989.”
Prova de que o gigante asiático sabe que não terá os mesmos índices é o fato de que, na semana passada, o Banco Central da China “já está cortando taxas de juros para empréstimo, praticamente o único Banco Central que está fazendo uma política monetária expansionista no momento em que a inflação mundial está subindo”, diz o especialista.
Outra condição interna que pode sofrer alteração negativa é a taxa de desemprego no país, que hoje está em 5,1%, e que pode crescer ainda mais ao longo do ano, segundo o professor.